"Na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
Antoine
Laurent Lavoisier
A ciência tem demonstrado
que as fezes humanas podem constituir um negócio, gerando empregos e renda, ao invés de serem um transtorno.
Levando em conta que cada habitante gera em média 165 kg de cocô, os 11 milhões de habitantes da Região Metropolitana produzem por ano algo em torno de 1,8 bilhão de kg ou 1,850 milhão de toneladas.
Levando em conta que cada habitante gera em média 165 kg de cocô, os 11 milhões de habitantes da Região Metropolitana produzem por ano algo em torno de 1,8 bilhão de kg ou 1,850 milhão de toneladas.
Essa quantidade de
fezes é suficiente para encher 185 mil caminhões com capacidade de 10 toneladas,
que usualmente tem 14 metros de comprimento. Isso daria uma fila de caminhões
com 2.590 km, ou seja, a distância entre o Rio de Janeiro e Buenos Aires.
Pesquisas financiadas
pela Fundação Bill Gates desenvolveram a Omniprocessor, uma usina de produção de
energia empregando fezes humanas como insumo. Com os dejetos de 100 mil habitantes, a usina
pode produzir 250 mil watts de energia e 86 mil litros de água. Segundo Peter Janicki, CEO da Janicki Bioenergy, empresa que inventou o
OmniProcessor, a máquina usa o “lodo do esgoto” (“sewer sludge”) para
reaproveitar resíduos.
Na Região
Metropolitana, o processamento do cocô em Usinas poderia gerar anualmente nada
menos que 25,5 MW (27.500.000 watts) e 3 m3/s de água (9.460.000 litros). A energia
é suficiente para abastecer 40 mil casas e a água pode suprir a demanda de
muitas indústrias. Niterói, com 500 mil habitantes consume 2 m3/s.
Uma planta já esta
em funcionamento em Dakar no Senegal.
O plano de saneamento da Região Metropolitana deveria contemplar estas alternativas, ampliando o campo de visão para tratar o cocô como insumo econômico, um negócio que gere renda e empregos, ao invés de ser desperdiçado. A conta de água certamente seria menor. Vale a pena implantar uma planta piloto Omniprocessor na bacia do Rio Macacu? Ou Biodigestores para produção de gás. Enfim as possibilidades são múltiplas. A solução convencional de coletar, tratar e lançar esta com os dias contados.
Precisamos da Ecoconomica, termo cunhado pelo jornalista Maurício Horta, cuja matéria publicada na revista Superinteressante é reproduzida abaixo.
As fezes humanas já alimentam boa parte do mundo. E podem alimentar bem mais. De quebra, elas também são uma alternativa de energia (hum...) limpa. E se prepare: ainda existe um verdadeiro pré-sal de cocô a ser explorado!
O plano de saneamento da Região Metropolitana deveria contemplar estas alternativas, ampliando o campo de visão para tratar o cocô como insumo econômico, um negócio que gere renda e empregos, ao invés de ser desperdiçado. A conta de água certamente seria menor. Vale a pena implantar uma planta piloto Omniprocessor na bacia do Rio Macacu? Ou Biodigestores para produção de gás. Enfim as possibilidades são múltiplas. A solução convencional de coletar, tratar e lançar esta com os dias contados.
Precisamos da Ecoconomica, termo cunhado pelo jornalista Maurício Horta, cuja matéria publicada na revista Superinteressante é reproduzida abaixo.
As fezes humanas já alimentam boa parte do mundo. E podem alimentar bem mais. De quebra, elas também são uma alternativa de energia (hum...) limpa. E se prepare: ainda existe um verdadeiro pré-sal de cocô a ser explorado!
Não fosse pelo esgoto, o preço de vegetais em países
pobres aumentaria tremendamente. Cada tonelada de fezes humanas tem até 6
quilos de nitrogênio, 2,5 quilos de fósforo e 4,2 quilos de potássio, e cada 1
000 litros de urina, até 70 quilos de nitrogênio, 9 quilos de potássio e 400
gramas de fósforo. “Com essa constituição, fica claro o valor fertilizante dos
dejetos humanos tanto para uso em pequena como em grande escala”, diz o
engenheiro agrícola Antônio Teixeira de Matos, da Universidade Federal de
Viçosa.
Claro que nem ele nem ninguém defende que comer um
legume cultivado nas fezes de desconhecidos é uma boa ideia. Um grama de cocô é
uma bomba com 10 milhões de vírus, 1 milhão de bactérias, 1 000 cistos de
parasitas e 100 ovos de vermes. É a água contaminada por esses organismos que
causa 80% das doenças relacionadas à diarreia, que matam uma criança a cada 15
segundos. Ou seja: comer desses cultivos é quase tão perigoso quanto não comer
nada.
O potencial de verdade, então, está no esgoto
tratado contra micro-organismos nocivos. “A tecnologia para limpá-lo [como
tanques de estabilização de dejetos e outras técnicas de baixo custo] já é bem
pesquisada e documentada. A questão é apenas aplicá-la onde for necessário”,
diz a engenheira ambiental Liqa Raschid, do IWMI.
Os países desenvolvidos já fazem isso, inclusive.
Eles processam grande parte dos dejetos, produzindo de um lado água potável e,
de outro, o lodo de esgoto – tratado contra bactérias e parasitas. E esse lodo
é a base de muitos cultivos. No Reino Unido, por exemplo, 70% do lodo vai para
a agricultura, e, nos EUA, só a empresa Synagro fatura US$ 320 milhões
coletando lodo de esgoto para vender a fazendeiros do país todo. Só não dá para
substituir todo o fertilizante artificial por cocô porque não o produzimos o
suficiente.
O tratamento é fundamental para usar esgoto como
adubo, mas não é tão necessário se os dejetos forem aplicados em culturas não
comestíveis, como fibras, madeira e combustíveis, segundo Matos. “Se a
aplicação for feita em doses adequadas, para não contaminar o solo nem as águas
subterrâneas, o risco é mínimo. E o aproveitamento deve ser incentivado”,
conclui. Resultado: o produto interno bruto do seu intestino vai direto para o
do país! Você estará contribuindo para o crescimento econômico cada vez que
sentar no trono. Mas isso é só o começo.
Problema de gases
Outro fim economicamente interessante pode ser dado
ao cocô: produzir energia. Afinal, as fezes têm gás combustível de montão. Some
a criação de animais domesticados do mundo – 1,34 bilhão de vacas, 1,8 bilhão
de cabras e ovelhas, 941 milhões de porcos e 18 bilhões de galinhas. Se você
pegar só a metade do que essa bicharada solta em um ano, poderá produzir em gás
o equivalente a 2,28 bilhões de barris de petróleo por ano, ou 8% do que o
mundo consome. Juntando isso à produção intestinal dos 6,9 bilhões de seres
humanos… bem, as chances energéticas parecem ilimitadas.
Ainda assim, a produção de gás de origem biológica
(o biogás) está engatinhando. É que um biodigestor comum precisa de em média 30
litros de matéria orgânica por dia para se tornar viável, enquanto uma pessoa
faz cerca de 250 gramas de cocô e 1 litro de urina nesse período. Não dá grande
coisa em biogás. Para manter acesa uma única lâmpada de 100 W, por exemplo, só
com a produção diária de 10 pessoas.
Mas com uma forcinha dos animais a coisa funciona.
Uma vaca produz 30 quilos de estrume por dia. Juntando isso com a porção
humana, já dá para conversar. Tanto que, hoje, 15 milhões de lares na China
rural conectam suas privadas a um biodigestor – e, poucas horas depois de terem
dado a descarga, podem acender o fogão e cozinhar o almoço.
Com 1,6 bilhão de pessoas, o país conseguiu então
estampar mais um título autoatribuído de grandeza: o de país que aproveita mais
energia do cocô. Num vilarejo-modelo na província de Shaanxi, todo cocô, humano
ou animal, é aproveitado para produzir energia. A Índia segue o mesmo caminho,
com seus 283 milhões de vacas. Mas é o Nepal o país com mais biodigestores per
capita. Com 83% da população no campo e constante falta de combustível, 4% dos
nepaleses usam o biodigestor a cocô de vaca. O Brasil vai devagar, mas São
Paulo e Mato Grosso já têm fazendas com biodigestores de fezes de porcos.
Esse tipo de iniciativa pode fazer toda a diferença
para o bolso dos criadores de animais. E para o seu. Por exemplo: se todas as
criações de frango aproveitassem a quantidade mastodôntica de titica que
produzem, a carne poderia ficar 4% mais barata no supermercado, segundo um
estudo de Julio César Palhares, pesquisador da Embrapa. Isso corresponde ao
custo do aquecimento elétrico, uma necessidade dos criadouros. E a energia da
titica, sozinha, daria conta de eliminá-lo.
Mas nem sempre é necessário criar animais para que
os biodigestores sejam viáveis. Em lugares de população grande e concentrada o
sistema pode vingar. Foi o que aconteceu nas prisões Ruanda. O genocídio de
1994 inflou a população carcerária do país, bombando tanto os gastos com lenha
para cozinha quanto a produção de fezes, que acabava nos rios. O cocô dos
presos tinha virado um problema nacional! A solução? Cozinhar a comida deles
com biogás feito de suas próprias fezes. Pronto. Desde então, esse combustível
humano permite uma economia de 60% nos gastos com lenha – gastos que chegariam
a US$ 1 milhão por ano.
Os europeus também já podem entrar no banheiro e
sair com a consciência ambiental mais limpa. A Alemanha transforma 60% de suas
fezes em energia, e a Inglaterra deve fechar 2010 passando a marca de 75%. Na
Suécia já há carros funcionando, indiretamente, à base de cocô. A cidade de
Linköping transforma todo o esgoto de seus habitantes (e mais o cocô de porcos
e bois) no biogás usado nos 64 ônibus do lugar e no primeiro trem movido a cocô
do mundo, que tem autonomia para percorrer 600 quilômetros. Enquanto isso, 12
postos abastecem os carros locais, economizando 5,5 milhões de litros de
gasolina. Com isso, 9 toneladas de CO2 deixam de ser lançadas no ar por ano.
Mesmo assim, ainda existe um pré-sal de cocô a ser
explorado. Simplesmente porque quase todo ano ele é desperdiçado por falta de
saneamento básico. No mundo, 2,5 bilhões de pessoas não contam com esse luxo.
Não é que não tenham acesso ao esgoto. Eles não possuem sequer uma fossa: vão
para campos abertos de defecação, linhas de trem, florestas… E em algumas
favelas, partem para o toalete-helicóptero: fazem num saquinho e jogam no
telhado do vizinho.
Inspirador, não? Bom, para o empresário sueco
Andrés Wihelmson foi. Primeiro ele viu saquinhos de cocô voando em favelas do
Quênia. Depois, constatou que esses lugares tinham bastante espaço livre que
poderia ser usado para plantar. Aí ele juntou as duas coisas numa ideia só:
fazer saquinhos-privada biodegradáveis e com produtos químicos que matam os
germes do cocô. Depois de se aliviar, você enterra a caca e ela vira adubo.
Andrés já testou a coisa na África e deve começar a produção neste ano. A
intenção não é fazer caridade, mas vender os saquinhos pelo equivalente a R$
0,05. Com lucro. Pois é: com cocô não se brinca.
Fontes: