Ecossistemas marinhos são peça-chave no combate às mudanças climáticas
Depósitos de carbono ao longo das áreas costeiras em todo o globo, incluindo manguezais, bancos de gramas marinhas e marismas (que são terrenos lamosos ou alagadiços à beira do mar), vêm armazenando enormes quantidades de carbono durante séculos. E esses depósitos podem fornecer uma ferramenta imediata e de baixo custo para conter os impactos das mudanças climáticas, anunciou a Conservação Internacional (CI) esta semana, durante uma apresentação sobre o tema em Cancún, onde acontece a 16ª Conferência das Partes (COP-16) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
O evento, "Carbono Azul: valorando a mitigação de CO2 pelos ecossistemas marinhos costeiros”, organizado pela Conservação Internacional, em parceria com a União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês), trouxe a seguinte questão: estamos perdendo nossas principais reservas de carbono ao longo das zonas litorâneas?
Segundo os cientistas que apresentaram a pesquisa, a resposta é enfática: ‘sim!’.
Apelidados de "carbono azul" por sua habilidade de sequestrar e armazenar enormes quantidades de carbono, os ecossistemas marinhos costeiros apresentam grande potencial de mitigação do clima, se forem valorados e bem manejados. Segundo os cientistas, os depósitos totais de carbono por quilômetro quadrado nesses sistemas costeiros podem ser até cinco vezes maior que o carbono armazenado nas florestas tropicais. Isso é resultado da sua capacidade de sequestrar carbono em taxas até 50 vezes superiores às das florestas tropicais.
"O que temos visto é que esses três ecossistemas - manguezais, bancos de gramas marinhas e marismas - são incrivelmente eficientes em armazenar carbono no sedimento abaixo do solo por séculos a fio", afirma Emily Pidgeon, diretora do Programa Marinho de Mudanças Climáticas da Conservação Internacional. "Para nós é tão natural que os oceanos devam ser parte da solução da mudança climática, que chega a ser até surpreendente que eles não tenham sido considerados até hoje", confessa Emily.
De acordo com a análise científica, os ecossistemas costeiros estão sofrendo perdas no mundo todo, em um ritmo alarmante, sendo que aproximadamente 2% estão sendo removidos ou degradados por ano.
Outras conclusões importantes do estudo sobre a degradação dos ecossistemas marinhos costeiros foram:
• 29% dos bancos de gramas marinhas do mundo foram perdidos ou degradados
• 35% dos manguezais do planeta foram perdidos ou degradados
• 35 mil km2 de manguezais foram removidos ao redor do mundo entre 1980 e 2005, o que equivale a uma área do tamanho de Taiwan.
"A perda dos manguezais é como um golpe duplo para o nosso planeta: primeiro, porque resulta numa rápida emissão dos estoques de carbono que, em muitos casos são resultado de séculos de depósitos combinada com a perda de oportunidade de futuros sequestros de carbono por essas áreas e, em segundo , porque destrói os habitats que são críticos para a as atividades de pesca em todo o mundo ", analisa Pidgeon.
Também foi anunciado na apresentação o lançamento de um novo consórcio internacional de cientistas liderado pela CI, chamando de Iniciativa do Carbono Azul (Blue Carbon Iniciative, em inglês), cujos membros incluem, além da CI, a IUCN, o Centro de Monitoramento da Conservação do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP-WCMC), a Comissão Intergovernamental Oceanográfica (da Unesco), e a Restoring America´s Estuaries.
"Nós nos reunimos para estudar as possibilidades de mitigação e do valor econômico dos ecossistemas marinhos costeiros, porque essas áreas nos oferecem uma das poucas opções de baixo custo para remover o dióxido de carbono da atmosfera, de forma efetiva e imediata," explica a diretora.
Durante os próximos 2 a 4 anos, a Iniciativa Carbono Azul tem como objetivo orientar e desenvolver:
• Práticas de manejo em áreas costeiras que conservem os estoques de carbono
• Políticas que vão do âmbito local ao nacional que enfatizem a importância dos sistemas costeiros para a mitigação das mudanças climáticas
• Mecanismos de incentivo e de pagamento de carbono que valorem o carbono armazenado e sequestrado pelos ecossistemas costeiros,
• Uma rede de projetos demonstrativos, sobretudo nos ecossistemas costeiros da Indonésia, Filipinas e do Pacífico Tropical Oriental,
• Ferramentas de comunicação e de capacitação para o manejo do carbono costeiro, além de incentivos.
"É importante que a comunidade internacional comece a reconhecer o potencial valor desses ecossistemas costeiros e ofereça incentivos para a sua conservação e restauração", aponta Rebecca Chacko, diretora de Política Climática da Conservação Internacional, durante as negociações do Painel de Mudanças Climáticas que acontece em Cancun. "A partir do momento em que compreendermos o papel que esses ecossistemas desempenham na mitigação das mudanças climáticas, poderemos até sermos capazes de desenvolver um mecanismo internacional que possa contribuir para sua proteção e restauração”, completa Rebecca.
Um evento paralelo dentro da COP-16, a apresentação também revelou os destaques de um relatório inédito do Banco Mundial sobre o carbono costeiro, que tem lançamento previsto para o início do próximo ano .
"A ciência já está disponível, mas até agora não aconteceu nenhuma atividade coordenada para consolidar esse conhecimento e transformar em política ", avalia Stephen Crooks, autor do relatório e consultor da Restoring America´s Estuaries. "Nossa mensagem é clara: a conservação é uma alta prioridade se você quiser manter séculos de carbono estocado no solo - e não simplesmente liberá-lo no ar”, conclui o cientista.
Imagens e o PDF do artigo estão disponíveis na Conservação Internacional mediante solicitação.
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Conservação Internacional