Paulo Bidegain e Celso Junius
Do Parque Biológico na Restinga de Itapeba aos Parques Naturais Municipais de Marapendi, Barra da Tijuca – Nelson Mandela e Chico Mendes.
A cidade do Rio de Janeiro foi palco da primeira
tentativa de criação de uma área protegida municipal. Em 16 de março de 1932, o
Prefeito Pedro Ernesto (nomeado interventor do Distrito Federal por Getúlio
Vargas em 1930), baixou o Decreto 3.800 contendo instruções ao Conselho
Florestal do Distrito Federal para implantar um “Parque Biológico” com 20
hectares na Restinga de Itapeba (Barra da Tijuca).
O “Parque Biológico” visava preservar a flora
de restinga local e homenagear o centenário de morte de Johann Wolfgang von
Goethe (1749 - 1832), considerado como a maior personalidade da literatura
alemã, seu maior poeta, grande também como dramaturgo, romancista e ensaísta.
São notáveis seus estudos de ciências naturais.
Na restinga de Itapeba vivia uma planta rara chamada de
Pavonia alnifolia (ex-Goethea alnifolia), conforme citação encontrada em um livro clássico da botânica
brasileira, o "Flora Brasiliensis" de Martius. A ideia do Parque foi
de Alberto José Sampaio (1881-1946), um dos mais ilustres botânicos brasileiros
na época, que trabalhava no Museu Nacional, e de Armando Magalhães Correia(1889-1944), escultor, desenhista, professor e escritor. A campanha foi
sustentada por diversos artigos publicados no jornal Correio da Manhã.
Alberto José Sampaio nasceu em Campos dos
Goytacazes em 1881 e faleceu em 1946. Através de concurso público, em 1905
assumiu a função de Assistente de Botânica no Museu Nacional. Entre 1912 e 1937
trabalhou como professor e chefe da Seção de Botânica. A partir de 1912
propugnou pela necessidade de reflorestar áreas desmatadas e criar parques e
reservas. Sampaio era discípulo de Alberto Torres (1865-1917) pensador
nacionalista de grande influência na intelectualidade e na política daquela
época, que sustentava uma visão no qual a natureza desempenhava um papel
estratégico no desenvolvimento do país.
A intenção de Sampaio era institucionalizar
medidas conservacionistas propostas pela geração de cientistas e pensadores que
o precederam, dentre eles Alberto Loefgren e Herman Von Ihering. Sampaio teve
papel de destaque na concepção da legislação ambiental emanada a partir de 1934
no governo de Getúlio Vargas. Participou, como representante do Museu Nacional,
ao lado de Durval Ribeiro do Pinho, presidente da Sociedade dos Amigos das Árvores, da elaboração do Código Florestal de 1934.
Infelizmente, entre 1933 e 1950 nada foi
levado a cabo, ficando a Parque Biológico na intenção. Em 1951, uma comissão da
Prefeitura do Distrito Federal foi designada para propor medidas para proteção
da natureza carioca. A Comissão retomou a iniciativa e recomendou a criação da
Reserva Biológica de Jacarepaguá. Nada foi efetivado. Nova comissão foi criada
em 1958 para execução da medida e, no ano seguinte, foi instalada a “Comissão definitiva da Reserva Biológica de Jacarepaguá”.
Finalmente, em 1959, mesmo com a oposição de grileiros, a Reserva Biológica de
Jacarepaguá foi criada (Decreto Federal nº 14.334/1959), compreendendo as margens das lagunas de Marapendi,
Jacarepaguá, Camorim, Tijuca e Lagoinha, além de um trecho de 2,1 km de praia,
totalizando 2.800 ha (28 km2). O trecho é conhecido atualmente como “Praia da
Reserva”.
A concepção e o plano de implantação da
Reserva foram desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas Florestais e Conservação
da Natureza (CPFCN) do Distrito Federal, sob a liderança do agrônomo Alceo Magnanini, do engenheiro agrônomo Harold Edgard Strang e do
biólogo Adelmar Coimbra-Filho (1924 – 2016).
Aprovado em 1969 por Negrão de Lima, então
Governador do Estado da Guanabara e concebido pelo urbanista Lucio Costa, o
Plano Piloto da Barra da Tijuca reduziu significativamente a superfície da
Reserva, liberando grandes espaços para serem comercializadas pelo mercado
imobiliário.
No governo do Prefeito Marcos Tamoio em 1978,
o que havia restado da Reserva foi transformado no Parque Zoobotânico de
Marapend (Lei Municipal nº 61/1978), na extremidade oeste da Lagoa de Marapendi. Em 1991, o Prefeito
Marcello Alencar criou a Área de Proteção Ambiental (APA) do Parque Zoobotânico
de Marapendi (Decreto Municipal nº 10.368/1991) abrangendo o Parque e todo
o entorno da Lagoa, passando a proteger também áreas públicas e privadas fora
do mesmo.
Na gestão do Prefeito César Maia em 1995,
todas as áreas públicas da orla da Lagoa de Marapendi foram incorporadas ao
Parque Zoobotânico de Marapendi (Decreto
Municipal nº 14.203/1995) que passou a chamar‐se
Parque Municipal Ecológico de Marapendi. Em 2003 ganhou a designação atual de
Parque Natural Municipal de Marapendi.
Da concepção inicial de uma Reserva Biológica
com 2.800 ha (28 km2), pouco mais de 10% ou 362 ha, foram efetivamente
protegidos em parcelas dos Parques Naturais Municipais da Barra da Tijuca –
Nelson Mandela, Marapendi e Chico Mendes.
NOTA
Oficio da Sociedade dos Amigos das Árvores dirigido ao Presidente Getúlio Vargas anunciando a realização da Primeira Conferência Brasileira de Proteção a Natureza (Jornal Correio da Manhã, 1932) - clique aqui
NOTA
Oficio da Sociedade dos Amigos das Árvores dirigido ao Presidente Getúlio Vargas anunciando a realização da Primeira Conferência Brasileira de Proteção a Natureza (Jornal Correio da Manhã, 1932) - clique aqui